domingo, 30 de novembro de 2014

super veneno


você aceita o que vier 

pra não sofrer o desapego
mas tá sempre insatisfeito com a realidade
sempre te falta alguma coisa
não quer confiar tudo ao sentimento
mas a cabeça é um turbilhão
que já tem casa na Lua
anda com os pés no chão
mas quanto mais cê se desprende mais aparece
coisa pra te prender...
faz de tudo
ri, dança, chora, esquece... dá jeito
e foda-se, segue...
e mais a coisa te persegue.
Às vezes, só o que cê quer
é estar em paz consigo,
aproveitar o sossego, praticar o desapego
sem se deixar abalar com aquela gente chata
que insiste em esfregar a felicidade
na sua cara.
que quer provar que tá feliz,
que nem se importa
e te olha
só pra persuadir o seu coração,
que aguenta alguns trancos
mas quer sempre ver bem o próximo
mesmo até em barrancos,
de que ele não é bom.
Não, cê só quer ficar sossegado...
e se desprender dessa grande mentira
dessa fantasia,
super veneno
que o povo tanto fala sobre o amor
se isso é estar feliz
prefiro então sofrer pelo que é verdadeiro
Me esquece, vai... vai viver...vai
Deixa eu cá só com minha dor..

no contrafluxo...

a gente até diz que não 
quando quer dizer que sim... 
e se enrola no tempo esperando 
o quê estava certo de que não queria mais
ser ou não ser?
é saudade do tamanho de um caminhão...
o beijinho no rosto bem cedinho, de manhã
quando acorda e a lua ainda tá beijando o rosto do dia;
aquela energia foda dissipada no calor de um abraço
e aquele sorriso teimoso que sempre acompanha
o brilho dos olhos...
dentro de cada sim mora um pouco de não
e de cada não uma pausa sem fim -
a gente até quer meter o pé
mas também quer ficar; quer sorrir mas também quer chorar
e enfrenta longa viagem
no contra fluxo de nossa própria margem
- entre não estar e querer
a saudade em linha tênue é pioneira emoção
nesse inferno e céu de sim e não
que mata nossa sede de amar
e morre ao nosso jeito de viver.

A calçada

a gente só quer viver
ser livre
sentir o ar entrar nos pulmões
como se lavasse a alma
e depois sair naturalmente.
se desapegar e ser feliz
ser livre?
apenas estar em qualquer lugar.
que adianta voar como um pássaro
e sua essência sentir o ar da liberdade
quando seus passos andam
acorrentados em seus pensamentos?
não podes ser livre se não há libertação.
a gente corre nessa bola
quase redonda e vai parar
no mesmo lugar.
anda... anda..anda: desanda.
caem sobre terra joelhos fatigados
que carregam esses pulmões
fartos
de tanto medo.
o medo tá amarrado!
amarrado como um verme
parasita que te aflige
o âmago e te come as entranhas.
que não tem rico nem pobre,
nem o homem de bem, nem o homem do mau
certos; nem errados
que não estejam afligidas suas espécies
seus ossos enfraquecidos,
e seus joelhos escaralhados.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A dança

sê menestréu para mim
que te canto, te danço e amo
simultâneo em malábaris
trocando o abraço pelo beijo
de modo que os dois sejam
em um único ponto
apenas um
e logo as mãos nas suas espáduas
quentes.
Beije os meus lábios em candência
e na sequência
me fazes toda sua
e quando acaricia-me
os seios com teu tato
harmoniosamente,
já sou toda nua.
Na alma, a música e a dança
se encaixam no tato perfeitas
assim como meu íntimo recebe
toda a energia que emanas
Nossos polos atraídos no tantra
liberam os fluidos naturais
nos amamos no seio da flor
amalgamados como dois animais...
Se te canto, te beijo, e danço: te amo
em lirismo sem fim.
Sou eu trovador inundado.
você: menestréu para mim

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Amor

Ante o esplendor vivaz de tua excelsa gloria
Toda a terra palpita em commoções supremas,
E ebria de tua luz, n'um canto de Victoria 
A alma dos moços vibra entre hosannas e poemas.
Por ti é toda aroma e pradaria florea,
As árvores por ti esmaltam-se de gemmas
E para apotheosar-te a noite merencorea
Semeia pelo azul mil fulgidos diademas.
No viço e no frescar das magnólias, no vôo
Das aves, no rumor festivo das colméias,
Nos milagres do sol, Amor, eu te abençôo!
Sê bemdito no olhar da creatura querida,
Sê bemdito no ardor que põe em nossas veias. Fonte de todo bem, gérmen de toda vida.

Agripino Grieco em 'A Avenida'

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O beijo

Teu sorriso é único, tua boca é boa.
fecho os olhos ao primeiro contato
e viajo.
o corpo esquenta e tu me apertas
pelos quadris
largos.
beleza é ver a chuva pela janela
enquanto passarinho voa
pro ninho.
a igreja muda de cor no fim desse cenário
lembrando as cores da nossa aura
sobre a cama.
tua mão é gota escorrendo em mim
beijo molhado,corpos quentes
estados febris.
sua língua em minha língua
sua boca agora é minha.
seus lábios em meus lábios
nossos lábios
grandes lábios.
Fascinante júbilo quando beijas
tão carinhosamente a boca
entre os meus
quadris

terça-feira, 19 de agosto de 2014

As confusões corriqueiras de felicidade

Ainda que sejam inúmeras coisas, o que mais assusta o ser humano é o medo de encarar seus dias sozinhos; e tudo isso começa, na maioria das vezes com uma puberdade sendo influenciada pelo sensacionalismo das músicas banais, os super filmes de comédia romântica, um monte de bobagem da mídia e etcetera. Depois dessas coisas, começa a crescer em você uma imensa necessidade de se apaixonar e ter alguém do seu lado e você acredita na mensagem ilustrativa de que tudo é maravilhoso e será até ficarem velhinhos e morrerem quase 'juntos'. Você faz isso sem perceber que põe a paixão como se fosse o tesouro mais valioso da face da Terra, faz dela o seu deus. Até o seu primeiro relacionamento você até não sente tanto, mas a partir do primeiro é que começam os sintomas desesperadores, enlouquecedores e dizimadores da paixão: aquela que você colocou em primeiro lugar. Sim, como todo vício, simplesmente (como simples é a natureza) ela te seduz delicadamente, te dá prazer, te cega, te enlouquece e te arrebata. E você, todo moldado por um sistema sensacionalista que cria pessoas tolas e fracas, confia piamente que 'paixão' significa 'amor'. Diante disso, estar sozinho/solteiro é sinônimo de ser uma pessoa triste em busca do seu grande amor; no fundo você não percebe que esse tempo todo só alimentou seu ego e consequentemente, se despreparou para o tamanho da sua carência. Agora não sabe como lidar, porque ninguém ensinou isso na escola.
   Posso dizer como diz minha avó que o que tenho de amigas apaixonadas que encontram o amor de suas vidas a cada ano ou mês ou semana, "não consta nos gibis". Pois é, o que eu mais tenho observado nesses poucos anos de vida que tenho são pessoas insanas que se jogam numa imensidão de loucura e não voltam mais, pessoas apaixonadas, que apostam tudo por nada. Perdem a aposta e depois não aguentam carregar o tamanho da sua própria tolice, achando mesmo que seria feliz para sempre.
   É muito fácil compreender que o ser humano busca incansavelmente algo quase que intocável, quase que utópico, que é a felicidade plena; mas não percebem como estão a cada vez mais distantes enquanto se deixam levar pelas felicidades momentâneas. Pois é, a felicidade plena é algo que não está a venda, não está nos livros, não está no beijo, nem no sexo, nem nas alianças e tampouco na certidão de casamento. Está em Deus e precisa ser merecida. Não tô querendo dizer com isso que ter alguém não seja bom; o que estou querendo dizer é que, - mesmo com pouca vivência, consigo observar de perto que - muitas pessoas têm procurado nos outros e em outras coisas o que elas precisam encontrar dentro delas mesmas. Agora consigo enxergar mais claramente porquê se rompem tantos elos "infinitos" sem conseguirem encontrar a linha de chegada do 'final feliz'.
   Já sofri também, pouco, mas sofri, e espero não estar querendo parecer madura com esse assunto, mas acho que essa é uma mensagem divina querendo que as pessoas prestem mais atenção na felicidade e no amor genuínos, os quais tentamos procurar tão distante mas se observarmos direito, estão sempre em nós, na caridade, na solidariedade, no sorriso, no beijo, no sexo, na despedida e até no desapego. Deus quer que confiemos nele pra amar e sermos felizes porque tudo passa: podemos ter milhões de amigos, muita saúde e muito dinheiro, mas tudo isso vai passar e precisamos nos desapegar o quanto antes. Trabalhar o desapego também é uma forma de amar e ser feliz, atropela seu ego e te faz forte pra encarar qualquer coisa. Essa é a mensagem divina que todos nós uma vez que somos canais divinos devemos interpretar em nossas próprias vidas. Eis uma forma de viver plenamente, eis um jeito fantástico de confiar totalmente no destino que todas as coisas ficarão em seu devido lugar, aceitar o que a vida lhe der e ser grato por tudo: tudo o que foi, tudo o que é e tudo o mais que será. Diante disso, você vê que a paixão perde o poder de ser tão arrebatadora e passa a ser nada. E como todo merecimento há de ser trabalhado, mais vale trabalhar mesmo pra obter a tal felicidade plena que a essa sim é pertinente o final de ser 'feliz para sempre"

terça-feira, 15 de julho de 2014

Tesouro

Giovanna, nesse gesto tão sincero, o teu nome são os meus versos.
 Que a sua beleza nua expressa pelo teu mais simples olhar traduz  aquarela às completas cores da tua aura e carrega sua genuína riqueza; como tesouro que leva peculiar porque és tesouro, nada disso, em nenhum lugar, te deixaria de ser pertinente.
Giovanna, o teu alento, nesses versos tão pequenos, é maior que o universo.
E se bem te-não-conheço, me admiro com seu lindo toque de amor às repletas
flores da sua terra as quais rega em perfeita beleza. O que é ouro diante de quem és,
uma vez que és tesouro? Aquém disso e em seu lugar não seria continente.
Giovanna, quando fores, não te saia dos meus versos.
De um modo que sua presença seja sutilmente o ápice assim como são pétalas
entre as cores a as flores de sua delicada proeza.  Giovanna, brinco no teu cabelo louro em vez
de duradouro que completa o que há de belo ao afagar esses cachos envolventes.
Giovanna, o seu sorriso é mar, é oceano pra quem sonha disperso.
E eu vivo a sonhar lembrando do seu jeito de amar: minha memória predileta.
E quanto ao que diz: ‘amores’ , amar é a coragem de agir com nobreza pelo outro ao invés
de proferir agouro.  Diante disso,  em todo lugar, amo-te eternamente. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A DANÇA


Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Neruda

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Dia limpo, noite de tormenta.

Tu és a palma da minha mão.
E te conheço mais vasto que ela.
E tu até pareces, às vezes, intocável
Impenetrável e seco; pálido.
Mas não enganas a quem ousa tocar nela.
E se posso prosseguir direi então o que sei de ti.
Pois tão profundo quanto um oceano é o teu coração:
tal que nem tu bem o conheces, como te conheço
sendo a palma da minha mão.
E sinto-me, eu, como um barquinho navegante
buscando o seu ritmo, espírito marinheiro, flutuante.
Desbravando o teu peito vou assim:
mergulho em suas profundezas nua, bela
crua, pura e tu me aceitas.
Mas de mansinho vem chegando os ventos e os temporais.
E de repente não posso perceber como todas as coisas mudarão:
Se ora os pássaros me cantam bom-dia aos raios de Sol junto ao cais;
se ora te enfrento com tempestades de verão.
Mas talvez seja o modo como tuas ondas se quebram
Seja esse o segredo que me impele a te conhecer a cada dia mais.
Que mesmo em tuas bravas ondas é onde
os meus anseios sossegam.
E faz-me acordar outra vez em mais um dia de paz.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O garoto sem rumo

Este é um conto que aborda a vida de um garoto sem rumo:

     Era uma vez, um garoto sem rumo. Um garoto belo, rico, virtuoso só que sem rumo. Este conto conta que o tal garoto sem rumo morava numa simples casa e que no quintal desta simples casa havia um esplêndido jardim o qual fazia que esta simples casa não fosse tão simples assim, mas de uma singela nobreza não encontrada em outras casas.
     Diz a estória que todos os dias esse menino rico e virtuoso caminhava pelo jardim de sua casa buscando sempre o conhecimento e tudo o que despertasse prazer em seu espírito. E todos os dias durante muitos dias de sua vida esse menino fez isso até que se tornasse um rapaz. E foi assim, desbravando e conhecendo até quando se sentiu confiante e viu que poderia desbravar muito além do seu esplêndido jardim. E prosseguiu então conhecendo muito mais: sua casa, seu bairro, sua cidade e tudo; até sentir-se confiante para conhecer o mundo. E assim o fez.
      Passado algum tempo, alguns anos após este rapaz ter saído de sua casa buscando novos conhecimentos, eis que surge um homem. E conta o conto que era um homem belo, rico e virtuoso, com plenitude em seus traços, força em seu olhar, ternura em seu gesto mas um grande vazio em seu coração. E continua contando a estória que este mesmo homem cheio de virtudes carregava consigo um vazio tão grande que todas as noites se recolhia para dentro de si buscando sempre uma resposta para algo que tanto lhe tirava a paz. Então, em uma de suas noites solitárias voltou-se novamente para si e não suportando tanto vazio desfaleceu-se em lágrimas caindo num profundo sono. Sonhou então o virtuoso homem um sonho que contava sobre uma parábola indígena voltando-se para a vida de outro homem na qual dizia-lhe:
 
      " Então sentou-se o homem sozinho numa tristeza profunda e todos os animais se aproximaram e disseram: "Não gostamos de ver você tão triste, peça-nos o que quiser que você o terá" E o homem disse: "Quero ter boa visão" Então o abutre respondeu: "Terás a minha". O homem disse: "Quero ser forte". A onça falou-lhe: "Vais ser forte como eu". E mais uma vez disse o homem: "Quero saber os segredos da terra". E a serpente respondeu: "vou revelá-los a você". E assim foi com todos os animais. E quando o homem tinha tudo o que eles poderiam dar... ele partiu. E então a coruja disse aos animais: "Agora o homem sabe muito e pode fazer muitas coisas. De repente, tenho medo." A corça disse: "O homem tem tudo de que precisa, agora sua tristeza vai acabar" Mas a coruja respondeu: "Não. Eu vi um vazio no homem, grande como uma fome que ele nunca vai saciar. É isso que o deixa triste e isso que o faz querer mais. Ele vai pegando e pegando até que um dia o mundo dirá: "Não mais existo e nada mais tenho para dar"

       Acordou, pois, o virtuoso homem num tremendo susto e assustado com o ensinamento decidiu-se que deveria se mudar. E fez assim: mudou-se. E em sua viagem mutante olhou o homem para todo o seu passado. De repente, arregalou seus olhos e dentro de um profundo suspiro percebera que lhe caíra a ficha: era um nômade, não conseguia mais fincar os seus pés no chão. Lembrou de tudo o que conquistou e tudo o que deixou no passado e todas as pessoas que havia deixado para trás. Era agora um homem sozinho e vazio e num determinado instante era, também, confuso. Pensou que de tanto procurar obtivera muito conhecimento, virtudes, sorte, sabedoria e consumia tanto que se lembrou que havia se esquecido de alimentar o seu espírito e equilibrar-se obedecendo apenas aos desejos passageiros. E mesmo em grande desequilíbrio, estava certo de que exatamente aquilo não o fazia feliz.
      Mas diz a estória que este homem procurava sua verdadeira felicidade no amor, contudo, em meio a uma transição confusa, não conseguia enxergar o que estava um palmo à sua frente; e viveu desse jeito por algum tempo. E desse jeito foi vivendo e se mudando e conhecendo mais vários lugares até quando se deu conta de que se sentia bem e em breve momento soube da gradeza de poder fincar suas raízes onde quisesse e cativar tudo o que quisesse. Nunca se soube se este homem encontrou o amor, mas sabe-se que foi feliz seguindo sempre em frente em sua solitária caminhada.
                       
                                                                           Fim